setembro 09, 2009


Do divisor de águas à margem do deserto

título para a publicação (3º título...)


Esta publicação talvez se torne 1 único pôster - a idéia inicial era tentar mostrar a seqüência das, ou ao menos enumerar, várias faces que o projeto já teve. Mas é coisa demais para que eu mesma edite. Ainda mais há apenas algumas semanas da exposição.

Já vi que não vou conseguir fazer um memorial relativamente completo sobre o processo deste trabalho para a bienal. Mas vou indicar o ponto de partida porque é prático, já me lança de volta para o ponto onde estou. Vejamos se o desenvolver do texto se auto-explica.

Então busquei no filme Stalker, do Tarkovsky, a referência para atiçar minha memória sobre as relações entre umidade e área fronteiriça da consciência. Isso porque haveria água no galpão. Nele todo. Encharcado era a palavra que a Laura costumava usar quando se referia ao espaço.Eu queria “lembrar” de umidade e fronteira de consciência porque falávamos de fluxos de delírio a partir daquele ambiente. Desde então comecei a pensar em duas qualidades de água. Eu estava no divisor de águas, queria essa linha divisória sem ambigüidades e que uma vez num campo, ou no outro, a experiência seria totalmente “única”, sem contaminações de um campo no outro, ainda que ambos fossem líquidos. Eu estava no divisor de águas.

Enquanto isso, no Stalker, 1 professor, 1 escritor e 1 stalker caminham em direção à Zona e conversavam:

- Neste caso vou esperar vocês aqui até que vocês retornem. (professor)

- Impossível, não retornaremos. (stalker)

- Tenho água o bastante. (professor)

- Ainda que retornássemos, não seria pelo mesmo caminho (stalker)

/ como pretender fazer este memorial senão a partir dessa impossibilidade?/

Do divisor de águas à margem do deserto

Saiu a água, e desde o salto para esse novo lugar, venho somando precipitações.


Toda nova idéia, antes de se acomodar e se fazer reconhecível em mim, já sofre uma pressão de ser formatada num projeto. Pressão minha, necessidade profissional de um trabalho cuja realização atravessa uma série de instâncias que eu não controlo nem determino.O que me cabe definir, o trabalho (conceito, material, orçamento, mão de obra, empresas terceirizadas, esquema de montagem) partiria de uma próxima idéia a partir deste novo lugar. Areia areia areia, deserto. O residual das idéias que passam é um sentimento forte de precipitação. Daí a insistência da imagem das ondas que, apesar de remeter à presença anterior da água, se justifica pra mim através desse movimento das idéias que se anunciam, se formam, avançam e quebram. Tornam a se anunciar, formar, avançar (avançam sempre muito pouco porque o tempo é curto) e quebram. Quebram rápido porque vêm sem força? Quebram rápido porque não se tem tempo de observar e alimentar seu avanço? Enfim, preciso manter alguma precipitação em suspenso para ter algo em mãos.


(Insistindo na onda como precipitação.

Posso fazer um molde para a onda, porque ela é algo que se precipita, mas que eu quero em suspensão...)


wikipedia -


‘A precipitação é a formação de um sólido durante a reação química. O sólido formado na reação química é chamado de precipitado e resulta numa substância insolúvel.

A formação do precipitado é um sinal de mudança química. Na maioria das vezes, o sólido formado "cai" da fase, e se deposita no fundo da solução (porém ele irá flutuar se ele for menos denso do que o solvente, ou formar uma suspensão).

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